segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dilema entre meio ambiente e crescimento em Gladstone

A pequena cidade de Gladstone, a 550 km de Brisbane, nordeste da Austrália, está chamando a atenção de autoridades comerciais, econômicas e ambientais. Apesar da população de apenas cerca de 60 mil habitantes, a região abriga o quarto maior porto de carvão do mundo e começou a desenvolver o que deve ser um dos maiores polos de produção de gás natural do oriente. Enquanto o mercado australiano se agita diante do desenvolvimento de negócios que tem sido vivenciado por esse porto, crescem, por outro lado, as preocupações sobre os efeitos que isso pode ter sobre o delicado ecossistema da região, abraçada pela grande barreira de corais.

Um dos grandes centros de exportação de commodities industriais da Austrália, o Porto de Gladstone movimentou 76,4 milhões de toneladas em carga no ano fiscal de 2011. Foram comercializados mais de 30 produtos, sendo que 70% dos resultados do porto vieram da indústria de carvão e 25% do alumínio. No ano passado, a receita do porto somou US$ 492 milhões, apresentando crescimento de 45%. Os lucros antes dos juros e impostos subiram 19,3%, para US$ 113,5 milhões.

Esses números foram alcançados depois de uma forte estratégia governamental de incentivos aos negócios na região. O porto começou a operar em 1914, se tornando autoridade portuária somente em 1987. Até os anos 50 passavam por ele gado e produtos de carne. Depois, o carvão e o alumínio começaram a ter um importante papel no comércio pelo porto. Há cerca de 20 anos, o governo passou a investir na compra de terras ao redor do porto, com a intenção de posteriormente vendê-las às empresas, que deste modo, teriam a oportunidade de desenvolver operações na região.

Hoje, 4.321 hectares de terras estão sob o controle da Gladstone Ports Corporation (GPC), empresa pública que administra e opera o porto. Foi criado ainda o conselho de desenvolvimento industrial e econômico de Gladstone (GEIDB), com a função de atrair novos investimentos e facilitar as negociações.

"Hoje, são inúmeras empresas que operam aqui. E o grande impulso vem principalmente da alta demanda por commodities da Índia e China. A urbanização desses países é muito importante para esse crescimento", afirmou o chefe executivo do GEIDB, Ken King.

A Queensland Alumina, uma das maiores refinarias de alumínio do mundo e a Rio Tinto Aluminium Yarwun Alumina Refinery, a primeira refinaria do mundo, estão entre as empresas que têm unidades de produção na região. 15

Hoje, dez novos projetos estão em construção - envolvendo os setores de gás natural liquefeito (GNL) e alumínio, além de terminais de carvão - com investimentos previstos de cerca de US$ 50 bilhões. Mas o destaque mesmo vai para três grandes projetos de GNL que, sozinhos, devem gerar desembolsos de US$ 45 bilhões.

O Queensland Curtis LNG, do grupo britânico BG, com aporte previsto de US$ 15 bilhões, tem início de entregas estimados para 2014. O GLNG (dos grupos Santos, Total e Cogas) tem desembolsos programados de US$ 16 bilhões, com início de operação planejado para 2015. Já o Australian Pacific LNG (dos grupos Origin e ConocoPhillips) envolverá US$ 14 bilhões, com primeiras exportações previstas para 2015.

Há ainda mais uma série de projetos propostos, mas ainda não aprovados para a região do porto de Gladstone. As futuras operações envolverão, além do gás natural, os segmentos de níquel, carvão e aço. Estima-se mais US$ 37 bilhões para esses projetos em potencial.

"Nosso plano estratégico de 50 anos indica que o porto de Gladstone poderá alcançar a capacidade de mais de 300 milhões de toneladas em produtos para exportação", afirmou King.

Além dessa expansão industrial, a administradora do porto toca um grande projeto dragagem, justamente para acompanhar a expansão das operações e das exportações. Os trabalhos devem ser concluídos em 2014 e já estão gerando polêmica.

No início do ano, Gladstone recebeu a visita de especialistas da Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU). As autoridades ambientais estão preocupadas, pois começaram a aparecer doenças na vida marinha da região, que é conhecida como a porta de entrada da grande barreira de corais. Segundo a mídia australiana, foram encontrados animais com problemas de pele e intestino e muitos culpam os processos de dragagem, que poderiam ter "levantado" a poluição industrial acumulada há anos.

Há ainda uma outra versão que diz que os problemas poderiam ter sido causados por alterações nas condições da água, depois das enchentes que assolaram o nordeste da Austrália no início do ano passado. O governo do Estado de Queensland ainda não apresentou explicações conclusivas sobre o assunto.

"Tem sido um ano de altos e baixos. Agora, a transformação econômica está em curso no Porto de Gladstone, com a indústria de GNL", afirma Leo Zussino, presidente executivo da GPC, em relatório de resultados.

Fonte: Valor Econômico

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