terça-feira, 6 de novembro de 2012

Gás abre uma nova fronteira energética

A Petrobras constrói gasodutos para escoar o gás natural produzido no pré-sal, a quilômetros da costa. A HRT descobriu o que pode vir a ser o maior poço produtor de gás em terra, em plena Floresta Amazônica. A OGX começa a produzir gás no interior do Maranhão no início de 2013. E além de os investimentos em gás natural ganharem força, o Brasil começa a perfurar suas reservas de gás não convencional, pelas mãos da Petra, em Minas Gerais.
 
Esse é o potencial de um Brasil cheio de gás, capaz de levar desenvolvimento ao interior do país, atraindo indústrias e gerando empregos. O Ministério de Minas e Energia acredita que esses investimentos podem levar o país à autossuficiência em cinco anos, com produção em torno de 170 milhões de metros cúbicos por dia. Hoje, segundo a Petrobras, principal produtora do país, a oferta é de 71 milhões de metros cúbicos por dia.
 
- O gás não convencional e o gás natural do pré-sal são hoje as novas fronteiras do setor. Mas há muitos desafios, como o desenvolvimento de novas tecnologias de exploração em águas ultraprofundas e o fraturamento das rochas, para o gás não convencional – diz Sylvie DApote, sócia e diretora da consultoria Gas Energy.
 
 
Só com o pré-sal, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) estima que a produção nacional crescerá entre 100 milhões e 120 milhões de metros cúbicos por dia em dez anos, com 21 novas plataformas em operação. Para o gás não convencional, não é possível fazer uma estimativa, pois as poucas empresas do setor, como Petra e Orteng, ambas em Minas Gerais, na Bacia de São Francisco, estão em fase exploratória.
 
Segundo a ANP, o gás não convencional no Brasil tem indicação de potencial de reservas de até 5,7 trilhões de metros cúbicos em apenas três bacias, como Parecis (no Centro-Oeste), Parnaíba (Nordeste) e Recôncavo (Bahia). Mas há indícios em outros locais, como São Francisco e Paraná (Sul). Ao todo, seriam 17 trilhões de metros cúbicos, diz a Gas Energy. Acredita-se que a reserva de gás não convencional do Brasil seja a quarta ou quinta maior do mundo. Para efeito de comparação, a reserva de gás natural do Brasil é estimada em 450 bilhões de metros cúbicos.
 
- É a era de ouro do gás. Pode haver um desenvolvimento no interior do país. O gás não convencional pode colocar o Brasil no mesmo patamar dos EUA, que vivem uma revolução energética, com aumento da produção e queda no preço, mas é preciso preparar a indústria de apoio para isso, pois são necessários equipamentos especiais – afirma Roberto Fernandes, professor da Uerj.
 
Mas a Petrobras não prevê excesso de gás no país até 2020. O Brasil ainda importa 30 milhões de metros cúbicos por dia da Bolívia. A estatal diz que o desenvolvimento de tecnologias para explorar o gás não convencional requer investimentos pesados e tempo. Mas admite que participará desse desenvolvimento.
 
Enquanto isso, a Petrobras destinará US$ 13,5 bilhões para o setor de gás e energia nos próximos cinco anos. A empresa pretende usar esse gás na produção de fertilizantes e na expansão da capacidade da geração de energia elétrica, por meio de termelétricas. E ainda vai construir uma usina de liquefação de gás.
 
 
Investimento de US$ 225 milhões
 
Gerar energia elétrica a partir do gás também é a aposta da OGX, controlada pela EBX, de Eike Batista. A empresa, que investiu US$ 225 milhões na Bacia do Parnaíba, no Nordeste, já perfurou 31 poços. Neste trimestre, a OGX fará testes em sua unidade de tratamento de gás, com capacidade de processamento de até 6 milhões de metros cúbicos por dia.
 
- Esse gás irá para uma termelétrica da MPX por um gasoduto, na qual será transformado em energia elétrica. É o primeiro projeto integrado do país. Todos esses recursos significam desenvolver o estado, com a atração de indústrias para o interior do Maranhão – afirma George Fernandes, gerente-geral do projeto da OGX.
 
Em toda a Bacia do Parnaíba, a OGX tem potencial de reserva de 311 bilhões de metros cúbicos. Desse total, 45% são de gás não convencional.
 
- Vamos começar com o gás convencional. O não convencional é uma oportunidade a médio e longo prazos – diz Fernandes.
 
 
Já a Petra, dona de blocos na Bacia de São Francisco, aposta no gás não convencional. A companhia deve começar a fraturar esses poços até junho de 2013. O gás está em rochas pouco permeáveis (ou “fechadas”). É preciso fraturar essa rocha com um fluido à base de água para liberar o gás.
 
De acordo com a empresa, esse gás pode ser usado em termelétricas e usinas de fertilizantes
 
 
Exploração já muda rotina de cidades
 
População vê alta em preços de imóveis e tráfego de caminhões
 
As pequenas Patos de Minas e Presidente Olegário, a cerca de 400 quilômetros de Belo Horizonte, já sentem os primeiros reflexos da atividade exploratória de gás não convencional da Petra, que começou em março do ano passado. Os preços dos imóveis subiram, devido à maior procura. Quem mora lá também teve de se habituar com o número de caminhões circulando pelas estradas entre os dois municípios mineiros.
 
Somente este ano, as atividades de perfuração da Petra, concentradas nessas cidades, consumirão investimentos de R$ 360 milhões. Para 2013, serão R$ 450 milhões. A expectativa é que somente em Patos de Minas a população tenha um aumento de 10%. De olho no crescimento, empresários locais já planejam construir um novo hotel na cidade.
 
 
Fazendeiro terá 1% da produção
 
A Petra, que tem uma base operacional na cidade, também está construindo um escritório, próximo ao aeroporto. Segundo fontes, outras companhias vão abrir bases no local. A Petra informa que fez alguns investimentos em infraestrutura, como a melhoria de 175 quilômetros em estradas, essencial para se chegar aos locais onde os primeiros três poços foram perfurados.
 
Por outro lado, há quem reclame da poeira causada pelo vaivém constante dos caminhões – o que levou a Petra a usar água durante o trajeto. A exploração do gás não convencional também vem trazendo renda adicional à população. O fazendeiro José Eustáquio de Faria, de 62 anos, por exemplo, recebe cinco salários mínimos pelo aluguel de um hectare para a Petra, que perfura um poço no local.
 
- Fizeram estradas. Houve uma melhora, sim. Agora, tem que ter asfalto. Esse dinheiro que recebo ajuda a pagar as contas. Mas quero que a produção de gás comece logo, pois vou ganhar 1% sobre a produção. Estou muito animado – disse Faria, ao lado da mulher e do filho.
 
A Petra pretende iniciar o fraturamento hidráulico até junho de 2013 e iniciar a produção após os testes que mostrarão se essas áreas têm viabilidade econômica. Nos poços, a perfuração é silenciosa, reflexo dos equipamentos cada vez mais modernos. Com um sistema praticamente todo computadorizado, 60 pessoas se dividem em turnos.
 
 
HRT quer produzir no Amazonas
 
Assim como a Petra, a HRT, dona de 21 blocos de gás natural na Bacia do Solimões, no Amazonas, em parceria com a russa TNK, também estuda, com a Petrobras, formas de usar o gás descoberto. Ricardo Bottas, gerente-executivo financeiro da HRT, lembra que cerca de R$ 1 bilhão já foi investido na perfuração de nove poços.
 
- Podemos fazer um gasoduto, uma termelétrica ou planta para produzir metanol ou fertilizantes. A estratégia pode envolver até mais de uma opção. A Região Norte ainda está isolada na rede de energia. Essa região importa o metanol de São Paulo. Há muito potencial e uma demanda reprimida de desenvolvimento. A exploração do gás em terra pode ultrapassar a do mar – afirmou o gerente-executivo da HRT.
 
 
Fonte: O Globo

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