O aumento no custo do diesel no ano passado obrigou a Waste Management
Inc. a cobrar dos clientes US$ 169 milhões extra apenas para pagar o combustível
para sua frota de caminhões de lixo. Este ano, a maior empresa de transporte de
lixo dos Estados Unidos tem uma nova estratégia defensiva: está comprando
caminhões movidos a gás natural, mais barato que o diesel.
A empresa diz que 80% dos caminhões que vai comprar nos próximos cinco
anos serão movidos a gás natural. Embora os veículos custem cerca de US$ 30.000
a mais que os modelos convencionais a diesel, cada um vai economizar US$ 27.000
por ano, ou mais, em combustível, diz Eric Woods, diretor de logística de frota
da Waste Management. Até 2017, a empresa espera consumir mais gás natural do que
diesel.
"A economia proporcionada pelo gás natural é enorme", diz Scott Perry,
vice-presidente da Ryder Systems Inc., uma das maiores empresas de leasing de
caminhões do país, e transportadora para os setores de alimentos, veículos,
eletrônicos e varejo.
A revolução do gás de xisto, que reduziu o preço do gás natural nos
Estados Unidos em cerca de 45% comparado com o ano passado, já provocou uma
mudança nos serviços públicos de energia, que estão passando do carvão para o
gás natural. Vastas quantidades de gás natural contidas em formações rochosas de
xisto foram liberadas por meio de técnicas aperfeiçoadas de perfuração, tornando
o combustível barato e abundante em todo o país.
Agora, o boom do gás de xisto está chegando aos transportes. Nunca houve
uma diferença de preço tão grande entre o gás natural e o diesel, tornando, de
repente, os caminhões movidos a gás natural uma opção atraente para as frotas
empresariais. As operadoras ferroviárias, por outro lado, estão sendo afetadas
pela diminuição nos carregamentos de carvão.
Muitas operadoras de frotas, especialmente de caminhões que percorrem
longas distâncias, continuam preocupadas com a escassez de postos de
abastecimento de gás. Outros desafios incluem os volumosos tanques de gás
comprimido e os perigos da manipulação do gás liquefeito. No passado, a
volatilidade dos preços do gás natural também impediu uma utilização mais
generalizada.
Hoje, porém, os fabricantes de caminhões e caminhonetes estão adotando o
gás natural para todo tipo de veículo, desde picapes híbridas como a Chevy
Silverado HD até carretas de dezoito rodas que podem queimar seja o gás natural
comprimido (GNC), ou o super-refrigerado gás natural liquefeito (GNL). A
Navistar International Corporation, a Cummins Inc. e a General Motors Co. estão
tentando atrair esse mercado com novos caminhões ou motores movidos a gás
natural.
O objetivo da Navistar é "expandir-se nos próximos 18 meses para uma gama
completa de produtos que usam o gás natural", diz Eric Tech, presidente da
divisão de motores da Navistar. Este ano, a empresa sediada no Estado americano
de Illinois está introduzindo caminhões de entrega movidos a gás natural. No ano
que vem, vai lançar caminhões para longas distâncias equipados com seus maiores
motores.
Tech diz que, daqui a dois ou três anos, um em cada três caminhões
vendidos pela Navistar vai ser movido a gás natural. "Este não é um mercado
movido a subsídios", diz Tech. "Ele está se desenvolvendo por conta própria,
pois a vantagem econômica é convincente."
Empresas como a United Parcel Service Inc. e a AT&T Inc. estão
comprando os veículos. A AT&T encomendou recentemente 1.200 vans de carga
Chevrolet Express movidas a gás natural comprimido. A GM, fabricante da marca
Chevrolet, disse que é sua maior encomenda de veículos movidos a GNC até
hoje.
Durante anos, um barril de petróleo custava mais ou menos o mesmo que
seis unidades de gás natural, e os preços de ambos variavam em conjunto, observa
Don Mason, consultor para a indústria de gás no Estado americano de Ohio. Hoje,
o barril do petróleo cru tipo West Texas Intermediate custa 33 vezes mais que
uma unidade de gás natural nos EUA. Nos postos de abastecimento, um galão de
diesel muitas vezes custa mais que o dobro do volume equivalente de
GNC.
"Creio que estamos num ponto de virada, embora seja uma virada grande e
lenta", diz Mason.
Apesar de os EUA terem gás natural em abundância, a adoção de veículos
movidos a gás natural tem sido irregular. Menos de 0,1% dos veículos que rodam
hoje no país usam gás, e o porcentual caiu ligeiramente entre 2005 a 2010,
quando foram reduzidas as políticas federais de incentivo à sua utilização. O
número começou a subir um pouco no ano passado, empurrado pelo
mercado.
Muita gente está tentando descobrir se o gás natural é realmente capaz de ser usado amplamente como combustível para o transporte. Greg Burns, presidente da PLS Logistics Services Inc., de Pittsburgh, no Estado americano da Pensilvânia, decidiu este ano fazer essa pergunta a 100 executivos de empresas de transporte por caminhões. Quase um terço respondeu que estava estudando ativamente o uso do gás para suas empresas. Mas 54% disseram que a infraestrutura atual é inadequada e 23% se preocupam com o custo mais alto dos caminhões.
A conclusão de Burns: "Se você trabalha com um horizonte longo o
suficiente, o panorama é bem otimista".
FONTE: The Wall Street Journal Americas