Companhia quer ganhar experiência com o campo de Pitanga para, mais
tarde, buscar novas áreas e vencer gargalo de abastecimento.
Para atender a necessidade de ter mais gás natural e por menor valor, a
Companhia Paranaense de Gás (Compagas), que hoje apenas distribui o recurso no
Paraná, deve entrar no setor de exploração e produção do combustível. O plano é
atuar em pequenos campos para ganhar experiência e na sequência participar da
exploração de grandes reservas no estado, caso se confirmem os indícios da
existência de novos campos.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda bacias de Norte a Sul do
Brasil, que podem elevar a oferta ao mercado em 360%, o que, segundo o ministro
de Minas e Energia, Edison Lobão, faria o país viver a “era do ouro para o gás”
(leia mais nesta página). Na Bacia Sedimentar do Paraná – formação geológica que
abrange quase todo o Sul do país e parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste – há
potencial para geração e acumulação de gás natural, mas a área é praticamente
inexplorada e pouco conhecida.
A bacia será objeto de um levantamento magnetotelúrico (que analisa o
tipo de rocha e sua permeabilidade) encomendado pela ANP. Uma empresa está sendo
contratada para projeto e a coleta de dados deve começar em setembro. A ANP não
informa em que parte da bacia será feito o estudo. Para a área do Paraná, em
especial, um segundo levantamento sísmico está programado e deve ser licitado em
setembro.
De olho neste potencial, a Compagas pretende participar da licitação do
campo de Barra Bonita, em Pitanga, no Centro do estado, onde já é comprovada a
existência de uma reserva de pelo menos 500 milhões de metros cúbicos – a área é
considerada marginal para exploração. Por essa razão, a Petrobras, que detinha a
permissão de explorar a área, devolveu a concessão para a ANP, por não tê-la
explorado. Não há previsão para a licitação
ocorrer.
A Compagas, que no ano passado teve faturamento de R$ 350 milhões,
planeja investir entre US$ 18 milhões e US$ 20 milhões (cerca de R$ 38 milhões)
para a exploração da área, que atenderia as regiões de Guarapuava e Maringá. O
valor não leva em conta o lance da licitação. “A Compagas pretende disputar o
direito de explorar o campo, que, apesar de pequeno, nos faria aprender com a
operação, a ter experiência para atuar em outras áreas”, salienta o presidente
da empresa, Luciano Pizzatto.
Pelo fato de a área ser pequena, Pizzatto acredita que o campo de Barra
Bonita não deva atrair o interesse de grandes exploradores. “Entretanto,
pequenos exploradores, que hoje atuam no Nordeste, podem querer participar. Mas
como a Compagas tem a vantagem de ter o mercado próximo, talvez a disputa não
fique tão acirrada e os lances não fiquem tão altos”, pondera. O presidente da
companhia afirma que a empresa não tem previsão para os
lances.
A exploração viria em boa hora. Para 2013 e 2014, a companhia tem
contratos fechados na ordem de R$ 800 milhões. O faturamento poderia chegar a R$
1,5 bilhão, mas a empresa não pode se comprometer por falta de garantia de
suprimento. “Temos condições de operar on shore [na terra] e não se exclui a
possibilidade de participarmos de outras concorrências para novas reservas no
estado. A Compagas tem o benefício do monopólio, mas, como contrapartida, deve
buscar o atendimento de todo o estado. Hoje estamos limitados à Grande Curitiba
e a Ponta Grossa, o que impede o surgimento de novos polos, mas isso poderia
mudar com a exploração”, explica Pizzatto.
7 trilhões de metros cúbicos é a estimativa do total de reservas de gás
natural no Brasil, segundo o Departamento de Energia dos EUA – volume bem maior
que os 395 bilhões de metros cúbicos constatados
atualmente.
Exploração
Atualmente boa parte do gás natural consumido no Paraná vem do gasoduto
Brasil-Bolívia (Gasbol). A exploração do campo de Pitanga pela Compagas pode ser
uma experiência para que novas áreas no estado sejam aproveitadas para levar o
combustível para outras regiões do Paraná.
Primeiro passo
Estudos para realizar as licitações estão prontos, diz
ANP
O potencial com a exploração do gás natural é enorme. Hoje 96% das bacias
ainda não foram exploradas. Estudos geológicos da ANP indicam grandes
reservatórios em seis bacias, do Norte ao Sul. O diretor do Instituto de
Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP e ex-diretor da Petrobras Ildo Sauer vai
mais longe: para ele, o Brasil está à beira de uma revolução
energética.
Segundo o especialista, estimativas do Departamento de Energia dos EUA
apontam que o Brasil pode ter reservas de 7 trilhões de metros cúbicos, contra
os 395 bilhões de metros cúbicos atuais. “É uma verdadeira revolução. Com o
desenvolvimento de tecnologia na produção, haverá redução dos custos e menores
impactos ambientais. Mas o governo tem que traçar uma política para isso”,
destaca Sauer.
Os recursos da ANP para os estudos das bacias vêm do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), para evitar que esse dinheiro seja
contingenciado pelo governo. Nos últimos quatro anos, foram destinados R$ 500
milhões. A agência diz que já está com todos os estudos prontos para realizar a
11ª rodada de licitações, em áreas acima do Rio Grande do Norte. Só falta a
presidente Dilma Rousseff autorizar.
País viverá era do combustível em cinco
anos
Visto como a nova fronteira energética do país, o gás natural pode
colocar o Brasil em um novo patamar no cenário internacional. Até então
associado à exploração de petróleo no mar, o gás virou tema de estudos
profundos, feitos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e por empresas, que
indicam enorme potencial em bacias terrestres. Para especialistas, o país tem
reservas gigantescas de gás natural do porte das de petróleo no pré-sal da Bacia
de Santos. Com isso, a oferta ao mercado deve aumentar 360%, passando dos atuais
65 milhões para 300 milhões de metros cúbicos por dia entre 2025 e 2027. Para
2020, a Petrobras, principal produtor, trabalha com um cenário de 200 milhões de
metros cúbicos por dia.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, não esconde seu entusiasmo
em relação ao potencial de reservas de gás natural no país. Para o ministro, em
cinco anos, o Brasil poderá se tornar autossuficiente em gás. “Dentro de cinco
anos podemos ser autossuficientes, quando a produção deverá estar na faixa dos
170 milhões de metros cúbicos por dia. O mundo e o Brasil vão viver a ‘era do
ouro para o gás’”, afirma o ministro.
Entretanto, segundo Lobão, o país não vai deixar de importar o gás da
Bolívia. “Não vamos deixar de importar. Temos o gasoduto que custou caro. O gás
boliviano continuará sendo importante como segurança adicional, além do que a
Bolívia é um país amigo. Temos que ajudar”,
ressalta.
É tanto gás que em áreas como nas bacias do Parecis, em Mato Grosso, e do
São Francisco, em Minas Gerais, as reservas chegam a borbulhar, num fenômeno
denominado exsudações. Em certos pontos, como na pequena Buritizeiro (MG), na
água que jorra do solo, com apenas um fósforo, se acende uma chama intermitente.
“No rio Teles Pires, em Mato Grosso, há 800 metros de rio borbulhando gás e, em
certos pontos, se pode até gravar o som. Podemos deixar um Brasil desses para
trás?”, pergunta Magda Chambriard, diretora-geral da
ANP.
Mas, para aproveitar todo esse potencial, é preciso que o governo defina
uma nova política para o uso do gás e que a ANP, que já investe R$ 120 milhões
por ano no estudo das bacias sedimentares, volte a fazer as rodadas de
licitações, paradas desde 2008, com a descoberta do pré-sal.
Fonte: Gazeta do Povo.
Fonte: Gazeta do Povo.
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