quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A hora do gás natural

Mudança aumentaria a oferta de energia elétrica e, ao mesmo tempo, levaria a uma menor dependência das hidrelétricas e, consequentemente, da água.
A crise da Petrobras, a crise do setor elétrico e a queda do barril de petróleo no mercado internacional abrem uma grande oportunidade para o crescimento da participação do gás natural na matriz energética brasileira. Para sair da sua atual situação de desequilíbrio do caixa devido à elevada dívida contraída nos últimos quatro anos, a Petrobras terá que, obrigatoriamente, acelerar o seu plano de desinvestimentos e rever para baixo os investimentos para os próximos anos. Nem mesmo os atuais altos preços da gasolina e do diesel serão capazes de equilibrar as contas da estatal.
No tocante ao plano de desinvestimentos, a empresa deveria vender integralmente suas participações nas concessionarias estaduais de distribuição de gás natural. Não faz sentido algum uma empresa do porte da Petrobras atuar num segmento regulado e com margens baixas. Isso acaba gerando conflitos, principalmente regulatórios, através da atuação verticalizada da empresa no setor, sem falar que esse modelo não tem alcançado o objetivo de promover um crescimento na malha de distribuição nos estados.

A Petrobras também deveria vender e/ou estabelecer parcerias na rede de gasodutos de escoamento da produção, transporte, unidades de processamento de gás natural e plantas de regaseificação. Sem falar de campos que hoje produzem petróleo e gás associado, que também poderão ser negociados pela estatal. Esses desinvestimentos trariam enormes vantagens. As principais seriam recursos financeiros, que neste momento a empresa precisa mais do que nunca, aumento da eficiência na operação desses ativos, incentivo à entrada de novos ofertantes e uma certa blindagem contra interferências politicas que tanto a maltrataram nesses últimos anos.
A crise do setor elétrico poderá levar o governo a mudar a regulação, permitindo participação de térmicas a gás natural na base do sistema elétrico. Isso aumentaria a oferta de energia elétrica e, ao mesmo tempo, levaria a uma menor dependência das hidrelétricas e, consequentemente da água. É bom não esquecer que, a partir do momento que o governo passou a autorizar somente hidrelétricas a fio de água, essas usinas perderam sua capacidade de regular o abastecimento por períodos mais longos e só usinas térmicas podem voltar a fornecer essa garantia. Nesse caso, as usinas a gás seriam a melhor opção, principalmente pelo aspecto ambiental, em que superam as de óleo e carvão, e as nucleares, outra boa escolha, que, por enquanto, não fazem parte do planejamento de governo. Outra vantagem da mudança de regulação é que as empresas geradoras de eletricidade poderiam firmar contratos mais longos com os fornecedores de gás, o que o tornaria mais barato. Alem do incentivo à construção de novas térmicas, passa a existir uma oportunidade imperdível para aumentar o uso da cogeração a gás natural, através da geração distribuída, que é uma forma mais moderna e mais eficiente que as térmicas tradicionais.
Por fim, com a queda do preço do barril, o gás também terá seu preço reduzido. Esse gás mais barato no mercado internacional poderá viabilizar a sua importação e a construção de terminais de regaseificação para atender novas térmicas e ampliar a oferta para o mercado das distribuidoras de gás. A chance de modernizar o setor de energia, aumentando a participação do gás natural na matriz elétrica, residências, comercio, serviços, transporte e indústria está na mesa. Cabe ao governo saber aproveitar essa oportunidade proporcionada por mudanças no mercado interno e no internacional.

Fonte: O Globo / Adriano Pires

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Procura pelo GNV dispara

O futuro aumento da gasolina em fevereiro já refletiu na maior procura pelo gás veicular como alternativa econômica para muitos motoristas niteroíenses. Os comerciantes que trabalham com instalação do famoso ‘kit gás’ apontam aumento de até 100% do movimento nas lojas. Além da maior procura alternativas como a bicicleta também caíram no gosto de alguns motoristas. A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (ABEGÁS) prevê aumento, também, de 100% do uso do GNV.
O presidente executivo ABEGÁS, Augusto Salomon, destacou o uso médio diário do GNV em todo o Brasil. “Até novembro de 2014, o consumo médio de GNV no país era de 5 milhões de metros cúbicos por dia. Com o reajuste da gasolina nossa expectativa é dobrar o uso do GNV em todo o país, uma vez que além de econômico o combustível é ambientalmente mais amigável pois é 20% menos poluente em relação à gasolina e 15% menos quando comparado com o etanol.”
Na Rede Gás, no Ponto Cém Reis, o aumento já começou e representa o dobro da procura e instalação do cilindro de gás veicular. Enquanto dois kits eram instalados por dia hoje esse número saltou para quatro, o que representa um aumento de 100%. “Todas as vezes que tem aumento na gasolina a procura é maior. A febre do gás continua, pois é muito vantajoso”, comentou o gerente da loja Miguel Jerônímo que explicou que a instalação pode variar de RS 1.800 até R$ 5 mil, dependendo das condições do veículo. Sobre a possibilidade de aumentar o valor do produto em decorrência do aumento da procura o gerente foi enfático. “Não vamos aumentar e vamos continuar cativando nosso cliente”, reforçou.
Para o taxista Márcio Teixeira o gás veicular foi instalado em seu carro assim que lançou no mercado e ele lembra, saudoso, do preço de R$ 0,42. Hoje esse valor já saltou para RS 1,79 e mesmo assim, com uma diferença de 326% de aumento, o gás ainda é mais vantajoso. “Além de econômico, o gás não prejudica o meio ambiente e ainda reduz em mais de 70% o valor do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (!PVA)\ opinou.

Para a gerente da Mil de Niterói, no bairro São Lourenço, Deise Pereira, o movimento ainda não começou mas as instalações de gás não param. “Acredito que a procura vai aumentar mas ainda não aconteceu. Acho que na primeira semana de fevereiro, quando o consumidor começar realmente a pagar mais caro, a loja vai ter mais movimento”, relatou. O mecânico que trabalha no local, Ricardo Batista, informou que a instalação varia de RS 1.200 a R$4 mil. “Temos um bom preço e ainda não tem como saber se esse preço vai aumentar ou não”, explicou.
Para o policial militar Luciano Carvalho, 35 anos, a medida de adotar o gás veicular em detrimento ao aumento da gasolina aconteceu em dezembro. A economia já é bem vista no orçamento mensal da família Carvalho, com pouco mais de 40%. quando antes se gastava R$ 350 agora se gasta R$ 200 com o novo combustível. “Se eu trabalhasse perto da minha casa eu trocaria o carro pela bicicleta. Além de contribuir para o meio ambiente e diminuir o tempo no trânsito, ainda iria perder uns quilinhos. Quero comprar uma bicicleta para andar perto de casa como ir em uma padaria ou farmácia”, explicou.
RELEMBRE 0 CASO
O Sindicato dos Postos de Combustíveis do Estado do Rio (Sindestado-RJ) informou no início da semana que a gasolina terá impacto de 17% no preço final. O aumento passa a valer a partir do dia 1 de fevereiro. Na refinaria a gasolina custa, segundo o Sindestado-RJ, R$ 1,30 e com o aumento esse valor subiria para RS 1,52.

Fonte: A Tribuna (Niterói – RJ)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Colapso no preço do petróleo lembra os anos 80, com uma diferença: o xisto

Bem-vindo ao novo mundo do petróleo de 2015 — uma repetição surpreendente da história de 30 anos atrás. Entre novembro de 1985 e março de 1986, o preço do petróleo bruto caiu 67%. Entre junho de 2014 e hoje, os preços caíram 57% e ainda podem recuar ainda mais.
Depois do colapso de meados dos anos 80, demorou quase duas décadas para que os preços do petróleo voltassem a subir para os níveis anteriores à queda e permanecessem em alta. Hoje, uma pergunta aterroriza os executivos do setor: Vai demorar tanto tempo dessa vez?
A resposta talvez esteja em uma enorme diferença entre hoje e 30 anos atrás: a velocidade do xisto.
Antes de as empresas de petróleo dos Estados Unidos terem descoberto como extrair petróleo das formações de xisto, os projetos petrolíferos frequentemente demoravam anos para serem executados. Vinte anos se passaram entre o momento em que um pescador encontrou uma mancha escura nas águas da costa do México e que o petróleo começou a jorrar no gigantesco projeto Cantarell na península de Yucatan. Foram necessários nove anos e bilhões de dólares para levar o petróleo bruto do norte do Alasca aos mercados globais.
Hoje, o descobrimento e a exploração de petróleo de rochas de xisto significam que a produção é mais rápida e está mais próxima do mercado americano — no Texas, Dakota do Norte, Colorado, Oklahoma, Wyoming e até Ohio. Perfurar e fraturar rochas hidraulicamente demora semanas, não anos. Um poço caro sai por US$ 10 milhões, comparado com os bilhões exigidos para perfurar no oceano e construir a infraestrutura necessária. Além disso, os investimentos, tanto em tempo quanto em dinheiro, estão minguando rapidamente.
O ciclo de investimento em um campo de petróleo encolheu. Exploradores descobriram a formação de xisto de Eagle Ford, no Texas, em 2008. Em cinco anos, ela passou a produzir um milhão de barris por dia — graças ao fluxo abundante de capital que pagou pela exploração de outros milhares de novos poços. Os poços de xisto secam rápido e, para que os campos continuem produzindo, são necessárias perfurações constantes.
A produção de petróleo de xisto, que permite uma reação rápida, pode ajudar a reduzir a oferta de forma mais acelerada que no passado, devolvendo o equilíbrio ao mercado sem que seja necessário esperar por anos. Tanto petróleo novo disponível em poços de xisto fáceis de explorar também pode tornar as altas de preço menos frequentes.
Mas isso não significa que os preços vão se recuperar em breve ou voltar para o nível de três dígitos visto meses atrás. A pressão nos preços pode ser necessária por mais alguns meses no setor do petróleo dos EUA e seus financiadores para controlar a oferta.
O Goldman Sachs Group Inc. informou na segunda-feira que prevê uma recuperação “em forma de U”, com preços deprimidos até que o mercado se reequilibre e eles voltem a subir em 2016. O banco acrescentou que espera um preço médio para o petróleo bruto em 2015 de US$ 47,15 por barril, bem abaixo da previsão anterior de US$ 73,75.
Para a indústria, um ano de preços baixos não se compara com uma década inteira. Mas não é difícil de prever o que acontecerá: O boom de petróleo de xisto tem apenas cinco anos — e enfrenta sua primeira crise. “Ninguém sabe quais seriam as consequências de um `teste de estresse´ na produção americana”, diz Leonardo Maugeri, acadêmico da Universidade Harvard que já foi um alto executivo da gigante petrolífera italiana Eni SpA.
Muitos economistas e analistas da indústria acreditam que os preços provavelmente se recuperarão até o fim do ano. O preço do barril de petróleo que é referência mundial, que fechou ontem em US$ 46,59, “deverá voltar ao patamar de US$ 70 e eu suspeito que se manterá aí por algum tempo”, diz Stephen P.A. Brown, economista de energia da Universidade de Nevada, em Las Vegas, e ex-economista da regional de Dallas do Federal Reserve, o banco central dos EUA.
Durante a última grande explosão de preços do petróleo provocada pela redução de oferta, a demanda permaneceu paralisada por vários anos, em parte graças a medidas de economia que os americanos adotaram depois do embargo árabe nos anos 70. O país adotou padrões de eficiência de consumo para os carros e o uso de petróleo para gerar eletricidade caiu em desuso.
Ao mesmo tempo, a produção de petróleo de países fora da Opep cresceu rapidamente. A produção no Mar do Norte explodiu assim como na China e em Omã. O México começou a exportar mais de 1 milhão de barris por dia em 1981 de seu complexo de Cantarell. Até o setor petrolífero americano começou a extrair mais petróleo de seus campos relativamente pequenos mas de custo elevado.
Assim, um excesso de oferta foi criado. No princípio, quando os preços começaram a cair, a Arábia Saudita tentou impulsionar as cotações reduzindo sua produção, que caiu de 10 milhões de barris por dia no início da década para 2,3 milhões de barris em agosto de 1985, segundo a Agência de Informação de Energia dos EUA. No fim daquele ano, cansados de perder mercado para os novos exportadores de petróleo, os sauditas jogaram a toalha e voltaram a produzir mais — assim como o resto da Opep.
Os preços mundiais entraram em queda livre, indo de cerca de U$ 30 por barril em novembro de 1985 para quase US$ 10 em julho de 1986. O setor americano praticamente fechou as portas. No fim de 1985, havia cerca de 2.300 poços sendo explorados. Um ano depois havia perto de 1 mil.

Os preços voltaram a subir alguns anos depois, impulsionados pela invasão do Kuait em 1990. Mas a alta não durou muito, terminando em 1991 quando a Operação Tempestade no Deserto expulsou as tropas iraquianas do Kuait e os incêndios provocados pelos invasores em retirada foram apagados. Depois, os preços se mantiveram baixos, entre US$ 15 e US$ 25, até o fim daquela década.
A oferta voltou a buscar o equilíbrio, com a demanda retomando o crescimento só a partir de 2000. O crescimento econômico global, especialmente na Ásia, elevou a demanda pelo petróleo bruto à medida que a classe média chinesa começava a dirigir carros. A importação de petróleo da China, que era virtualmente zero em 1985, tem crescido de maneira estável desde então. Ontem, as importações chinesas atingiram um novo recorde, de cerca de sete milhões de barris por dia. Os preços subiram muito em 2008 e depois caíram com a crise econômica e a recessão. Mas a queda de preço foi breve e se recuperou rapidamente.
Hoje, a demanda por petróleo bruto está crescendo, embora lentamente, em todo o mundo. A saúde da economia global e o apetite chinês por combustíveis terão um impacto significativo nos preços do petróleo bruto nos EUA e no mundo. Um evento externo — uma guerra ou conflito civil em um país grande produtor de petróleo — pode elevar os preços novamente.
Como no passado, a Arábia Saudita está apostando que os preços baixos forçarão os outros produtores a reduzir a exploração. Os preços em queda irão afetar a produção americana, mas talvez menos do que a Opep esperava. O custo de produção de petróleo de xisto — especialmente nos novos campos americanos responsáveis pela grande explosão na produção — está caindo.
Desde que os preços do petróleo começaram a cair, muitas empresas reduziram planos de gastos de capital para 2015. Mas a produção continua subindo.
Mike Rothman, presidente da Cornerstone Analytics, diz que, como os custos de perfuração estão recuando, não está claro quando a produção de xisto nos EUA vai cair. “Quão rápida será a resposta do xisto para essa queda nos preços? Essa é uma pergunta sem resposta”, diz. “Com o xisto, estamos lidando com um cenário muito diferente.”

Fonte: The Wall Street Journal – USA